Nenhuma mãe quer ter filho com limitação. Mas acontece. A frase ficou um pouco seca e aparentemente carregada de revolta, mas não é bem isso. É apenas a realidade. Simples. Direta.
Estamos investigando se o Pedro tem de fato alguma lesão que atrase seu desenvolvimento mais do que o normal, mais do que esperado para um prematuro extremo como ele foi. Mas, o buraco é mais embaixo. Estamos investigando se o Pedro teve alguma lesão cerebral que o impeça de desenvolver normalmente funções básicas como sentar sem apoio e futuramente caminhar. A parte motora é mais visível e por isso indica mais facilmente que algo está fora do compasso. Ao que tudo indica a cognição está preservada.
Temos feito acompanhamento com uma neuropediatra, estamos fazendo exames, mas já disse aqui que a medicina não é tudo. Existe um Deus na minha vida que não me abandonou e sabendo do meu sonho me deu um filho perfeito. E que depois quando todos achavam que o Pedro não sobreviveria me mostrou o verdadeiro milagre da vida. E como se não bastasse me deu um filho saudável, esperto, sorridente! Então, calma.
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Você é o meu filho amado que saiu de mim antes da hora e eu sou a sua mãe que pediu incessantemente a Deus que me deixasse ter o privilégio de viver com você. Sim, porque é um privilégio poder conviver com você, ver seu sorriso, ver seus aprendizados, ver sua carinha de descobridor de um novo mundo! Não houve um dia, Amor, que eu não tenha agradecido a Deus pela sua vida.
Nós temos um entendimento somente com o olhar e que as palavras não podem dizer. Eu te olho, você me olha e ali nós somos um elo inquebrável.
Apesar de ouvir tudo aquilo da médica e sentir, e pensar, em muitas coisas me mantive forte. Acho que ainda estava processando tudo. Até que seu pai olhou para o banco de trás onde eu estava com você e mirou bem nos meus olhos. Olhou lá dentro e fez uma cara, também inexplicável em palavras, mas dizendo algo do tipo “Eu sei meu Bem”. Senti as lágrimas chegando e aquele nó na garganta começou a se desatar até sair como um gemido de desabafo. Chorei.
Chorei só ‘um pouco’, filho, porque chegamos ao laboratório e eu precisava parecer inteira e sã para fazermos seus exames. E você mais uma vez conseguiu mudar o meu dia. Contrariando todos os pensamentos gerados com as frases médicas você quase não me deixou terminar de fazer o cadastro dos exames de tão esperto que estava. Pegava tudo a sua volta: meu cabelo, minha blusa, seu pé, os papéis em cima do balcão, alça da sua bolsa. A atendente deve ter pensado que eu sou muito estabanada porque eu mal conseguia te segurar e guardar os papéis/documentos/seu cobertor.
Sabe…quando eu te abraço forte me sinto melhor. Eu não sei se é porque sinto que posso te proteger do mal, tirar todo sofrimento, ou se é porque na verdade é você que me transmite toda a sua alegria inata. Sempre ouço das pessoas o quanto você é risonho, que você é um bebê feliz, que é muito esperto. E filho, não há nada que alguém possa me dizer que seja melhor do que essas três coisas. Nada.
Pedro, você é o melhor filho que eu poderia ter. Você é o meu “Titi”, meu fofinho, meu bebê.
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Fofice do dia
Hoje pela manhã a caminho da médica você começou a ficar com sono só que eu não tinha podia te tirar da cadeirinha para ninar. Sei que gosta de um paninho encostado no rosto para dormir, mas também não era possível no momento. Me lembrei de uma cena da noite anterior em que você estava no meu colo resmungando pra dormir quando seu pai colocou a mão dele no seu rosto, meio te amparando e acarinhando, para te acalmar. Então, apoiei a minha mão na sua bochecha esquerda e você foi amolecendo, deixando a cabecinha cair e…dormiu. Tão sereno. Tão seguro. E eu pensei mais uma vez “que privilégio fazer isso por você”.