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Te amo, Piriquito!

Filho,

só para você saber…

ontem te peguei no colo quando você já estava adormecido. Te peguei para colocar no berço e fui totalmente paralisada pela sua beleza, serenidade, inocência e confiança em mim. Olhinhos fechados, cílios perfeitos, sembrante de paz.

Fiquei um tempo com você no colo sentada na minha cama. Fiquei te olhando, vendo teus detalhes que eu já sei de cor e salteado. Ainda gastei um tempo sentindo teu calor, sua roupinha levemente úmida pelo verão tropical, cheirei seu cabelo e me senti grata pela tua vida! Grata por ser tua mãe.

Te amo, Piriquito.

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Preferências do Pedro – Aos 20 meses

galinha

Comidas

Biscoito de polvilho, bolacha (todas!), carne vermelha, pão, abóbora japonesa, bolo caseiro. Está super seletivo com fruta. É preciso muita criatividade, bom humor e paciência para ele comer um pouquinho de fruta.

Bebidas

Suco de laranja lima, Toddynho, café…adora café!! Dou pouquíssimo antes que me recriminem rsrsrsrs

Doces

Chocolate e bolo de aniversário.

Para dormir

Cobertores macios de microfibra. Geralmente ele abraça ou segura uma parte até pegar no sono.

Para brincar

Carrinhos, livros, bola. Tem loucura por chave. Principalmente a do carro. Já tentamos dar outras, mas ele não se deixa enganar! rs

No banho

Adora brincar com os brinquedos de água, gosta de ficar sentado na banheira, dá gargalhada quando lavamos os pés o pescoço e as axilas

Desenho preferido

Peppa Pig

Músicas preferidas

O sapo não lava o pé, Corre cotia, Marcha soldado.

Começou a balbuciar, como se estivesse cantando, quando toca a música do Backyardigans, da Peppa e da Galinha Pintadinha. Chega a sair um “pó-pó” na parte “…A Galinha Pintadinha e o Galo Carijó. A galinha usa saia e o galo paletó. Pó pó pó pó…”

Aprendeu…

…a engatinhar. Vai para todos os lados! rs

…a apertar botões…do elevador, do controle remoto, do telefone…

…a falar mã-mã-mãe (mamãe), pá-pá-pá (papai), “uiiizz” (luz), “íítzzaaa (pizza), “ó” (para mostrar as coisas que acha interessante).

…as cores. Vermelho, azul, verde, amarelo. Pega os objetos das cores correspondentes quando solicitamos

…a apontar para pedir o que quer comer, beber.

…onde fica o nariz. Finalmente!!!! Ele sempre apontava a sobrancelha, a boca, o olho kkkkkkk

…a ficar sentado sozinho no carrinho (este aqui)

Diversos

Não gosta de ficar calçado

Adora passear. Se vê alguém chegando perto da porta já começa a gritar e engatinhar rápido. Tipo “Ei, volte aqui. Não me deixe para trás. Quero ir com você!”. kkkkkkkk

Viu um barco de verdade pela primeira vez

 

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Cheiros e sabores

Hoje me peguei lendo um texto de uma colunista da Revista Época que falava sobre os sabores da infâncias. Enquanto lia fui lembrando de vários sabores que ficaram marcados na minha memória (gustativa?! rs): o macarrão com brócolis e o frango com batata da minha mãe, a sopa da minha irmã nos dias em que eu ficava doente, o bife do meu pai, e outras mil opções da minha avó.

Quando era criança às vezes precisava passar o dia no trabalho da minha mãe e de tarde ia até a copa tomar o chá de erva cidreira que a copeira fazia fresquinho. Hhhuuummmm que gostoso! Então eu cresci, minha mãe se aposentou e eu nunca mais tomei um chá como aquele. Já percebeu que muitos sabores a gente não consegue provar nunca mais na vida ainda que façamos com os mesmos ingredientes, com o mesmo modo de preparo? Não fica igual! Seria um toque a mais, um segredinho de mestre cuca?

Hoje quando penso no chá ou no macarrão com brócolis ou no doce de laranja da minha avó sei que, além do sabor maravilhoso que tudo isso tinha, era o meu estado de espírito de criança que deixava tudo isso ainda mais gostoso. Em cada prato há uma memória afetiva, fato!

Nesse exercício de resgatar quais sabores eu nunca esqueci, me lembrei que tenho uma “memória olfativa” ainda mais forte do que a “gustativa”. Quando sinto o cheiro me lembro instantaneamente da pessoa, situação, local. Uma vez indo para o trabalho senti um perfume masculino e em segundos associei com o meu marido. Era o cheiro do perfume de quando começamos a namorar.

O cheiro de talco lembra a minha mãe. Antes de dormir eu deitava na cama dela e enquanto ela lia eu ficava passando o rosto no braço dela só para sentir aquele cheiro gostoso que vinha dela. Os perfumes doces e de alguns xampus lembram minha irmã. O cheiro de chuva e asfalto me lembram os dias em que chegava tarde em casa de depois de sair com o Edu (marido. na época namorado). E tem também o cheiro de praia e mato que me trazem as melhores lembranças da infância e adolescência.

(pausa para um suspiro melancólico)

Mas acontece também com lembranças ruins. O Pedro tomou o primeiro banho com água e em uma banheira só depois de mais de um mês e meio de nascido. Antes disso ele não tinha o peso mínimo estipulado como seguro para tal atividade! Quando o dia tão sonhado chegou adivinhem? O hospital usava o sabonete líquido (o laranja) da Johnson’s que me trazia uma péssima lembrança de quando eu fiquei internada aos 13 anos. OH God!

Com os dias acabei me acostumando com o sabonete. E aquele cheiro que antes me trazia lembranças ruins se tornou motivo de alegria, pois durante a internação o banho dele era o momento em que nós vivenciávamos a rotina normal de uma mãe com seu bebê. Era delicioso colocá-lo na água quentinha, vestir a roupinha, pentear o cabelo, amamentar e ver a carinha de conforto depois disso tudo. Me dava muita satisfação. Aliás, dá até hoje quando, depois do jantar, dou banho com o tal do sabonete laranja e depois fico “dando cheiros” naquele menino delicioso que Deus me deu.

E vocês? Também tem lembranças com cheiros e sabores? Quais foram os sabores da infância de vocês?

imagem Google

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Mãe da minha mãe, minha avó, a bisavó do Pedro

Nós três na minha formatura da faculdade

Nós três na minha formatura da faculdade

Faz uma semana que ela se foi: a mãe da minha mãe, minha avó, a bisavó do Pedro. Ela tinha Alzheimer, sofria com a doença já há alguns anos desde quando o grande amor da vida dela também partiu assim de repente numa manhã de janeiro.

A morte é sempre a morte. Dói embora saibamos que um dia ela vem e que devemos estar preparados. Pasmos diante da única certeza da vida, ficamos perdidos em pensamentos ora de tristeza e lamentação, ora de saudade e conformidade.

Dona Adelina deitou no sofá e não acordou mais. Quase dei uma risadinha de contentamento quando minha irmã me lembrou que, nos últimos anos, era exatamente o sofá o seu lugar predileto para deitar-se. Sarcasmo, ironia, bullying da vida morrer deitado no lugar que mais gosta?! Rá.

Vovó morreu sem sofrimento. Deitou e não acordou mais. Me conforta saber que não houve dezenas de indas e vindas de hospital. Não houve agulhas, imobilização, entubação, traqueostomia, gastrostomia, fraldas geriátricas, nem equipe médica dizendo à família que não havia mais nada a ser feito. Enfermeira por mais de 30 anos no Hospital Emílio Ribas tinha conhecimento para dizer a mim algumas vezes que nunca queria ser internada.

Aliás, a profissão é um capítulo a parte na vida da minha avó. Quando criança ela levava e buscava roupa para minha bisavó lavar e passar. Depois já mais velha trabalhou de empregada doméstica, atividade que lhe ajudou a construir (com as próprias mãos) a casa que tanto amava. Mas, o orgulho dela era dizer que trabalhou no Emílio Ribas por mais de 30 anos e que cuidou de muita gente naquelas epidemias de difteria…tinha também os soropositivos para HIV, os tuberculosos, os doentes sem diagnóstico fechado. Na parede da sala de TV dela tinha um quadrinho de agradecimento do hospital por tantos anos de serviço. Se alguém novo ía a casa dela, ela levava para mostrar o certificado.

Há uma década ela convivia com o Alzheimer. Usei convivia porque acho que seja realmente isso. Não há cura. É uma doença degenerativa que vai apagando aos poucos as memórias, a capacidade motora, a dignidade do indivíduo e a saúde da família a qual assiste a perda em vida de um dos seus.

Vimos vovó perder a vaidade essa que era uma das marcas da sua personalidade forte. Aquela mulher que adorava sapatos de salto alto, batom vermelho, perfume e vestidos se esqueceu também disso. Quando eu era menina ela sempre comentava, aprovando ou reprovando, a minha roupa quando eu chegava em sua casa. Com amor, ela me dizia “Você está tão linda, filha. Mas, essa cor é muito escura para você. Você tem que usar cores mais alegres”.

Muitas pessoas conhecem o Alzheimer pela falta de memória e/ou a repetição de frases. Vovó fazia as duas coisas. Mas tinha uma coisa boa quando ela repetia, repetia e repetia que faria uma pastelada para mim. Sabe qual é? Sinal de que essa doença horrível não conseguiu apagar da memória dela as nossas tardes em família onde filhos, tios e primos se reuniam para comer seus pastéis (massa feita por ela) de carne moída e queijo mussarela (sim, eu sei que a grafia correta não é essa, mas não consigo escrever muçarela rsrsrs)

Aliás, vovó cozinhava bem. Comida simples, caseira, cheirosa. Bife – pernil – feijoada – bacalhau – nhoque – fritada de batata – abobrinha refogada – doce de laranja, abóbora, pera – pães  – arroz doce – bolinho de chuva – bolo de fubá…huummm! Sabores que eu nunca vou esquecer. Nem isso, nem dela.

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Querida vó,

Eu vou sentir sua falta. Mas, por saber que está num lugar muito melhor do que aqui, onde não há dor ou restrição qualquer, eu me sinto bem. Acredito também que o Sr. José veio te buscar e agora, enfim, vocês podem ficar juntos de novo, passear de mãos dadas como gostavam e dançar ao som de muitos boleros.

Não se preocupe com a minha mãe, a sua Bel. Eu e minha irmã vamos cuidar dela sempre. Ela sente sua falta vó e às vezes acho que a ficha está caindo aos poucos. Contudo, fique em paz porque estamos aqui para ampará-la.

A moça que cuidava de você contou que você beijava a minha foto no porta-retrato  todos os dias. Fiquei tão emocionada com isso. Obrigada por todo amor e pelos natais da minha infância. Obrigada por ter sido boa comigo. Sou cheia de boas memórias nossas.

Até um dia.

Com amor,

Bilu. (apelido que me deu ainda criança)

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Obrigada tia T.

Filho,

quando eu era pequena, uns 3 ou 4 anos, eu tinha uma professora de quem eu gostava muito. O nome dela era Jojô. Embora ela desse atenção para todos os meus coleguinhas de sala, nós tínhamos uma ligação diferente. Eu a adorava e ela em troca também me dava uma atenção especial.

Tenho pouquíssimas lembranças dela já que era bem pequena, mas curiosamente quando lembro desses momentos sou invadida por um carinho imenso. As boas vivências que tive naquele tempo ficaram gravadas no meu inconsciente e obviamente no meu coração.

A escolinha que eu frequentava na época tinha uma metodologia bem interessante. Seria pedagogia Waldorf, Motessoriana, Construtivista ou a simplicidade de escolinha básica? Não sei precisar (será que minha mãe lembra?). Mas, me lembro dos dias que passava no parquinho fazendo bolinha de sabão de cima da casinha de madeira, das rodas de atividades, das colagens, dos preguinhos onde pendurávamos nossas mochilas e lancheiras…

Outra memória marcante é de que houve uma época de visita à casa dos amigos. Não sei a periodicidade, mas de vez enquando a turminha toda visitava a casa de um amigo. Imagine a animação: comer na casa do coleguinha, conhecer seu quarto e seus animais de estimação, seus brinquedos e todo o universo de fora da escola.

Então um dia (não me lembro do motivo ou se o motivo foi apenas o carinho) minha professora Jojô me levou para conhecer a casa dela. Ela tinha um cachorro lindo de pelos dourados e rabo comprido chamado Mel. O tapete da sala era daqueles peludinhos que estava na moda na época (preocupação com rinite é coisa recente, gente). E lembro de ter lanchado sanduíche no pão de forma cortado em forma de triângulo! Foi sem dúvida um momento de profunda diversão e carinho. Tanto que eu me lembro até hoje após quase três décadas.

Tô contando essa história filho porque há poucos dias foi a sua vez de viver uma história parecida com essa em que o amor e a dedicação profissional foram quesitos maiores do que o retorno financeiro.

A convite da sua fisio T. fomos a casa dela para uma sessão na piscina (hidroterapia) que é uma excelente opção para o seu tratamento motor. Fomos recebidos com muito carinho pela tia T. e por toda a família que estava presente quando chegamos. A princípio você ficou sério e interessado em olhar o espaço. Mas, isso foi só até o Luke aparecer. O Luke é o cachorrinho da tia T. Você ficou encantado, filho. Olhou, sorriu, gritou, passou a mão e até beliscou (vergonha kkkk).

"Mãããeee, vamos entrar!"

“Mãããeee, vamos entrar!”

Pouco depois fomos para piscina e você, que ama água, ficou eufórico para entrar.Olhe essa foto. Não preciso explicar nada. Você brincou, brincou, brincou….até que cansou e começou a ficar choroso. Te dei banho e depois você se entregou ao sono todo relaxadão no colo da tia T.

Tudo isso aconteceu em três horas, filho. Mas, foram horas em que observei tudo com muita calma para poder te contar depois. Pra te dizer que você é querido por muitos e há seis meses também pela sua tia T. que acredita na sua capacidade e põe carinho e dedicação em cada alongamento, estímulo, posição. O que ela te dá vai muito além de uma simples terapia e, por isso talvez, você goste tanto quando a vê na porta de casa.

Por fim, queria lhe dizer que não é necessário/obrigatório/vital ter amor em tudo na nossa vida. A gente consegue levar os dias sem ele, mas não sem ficar um pouco mal humorado, ranzinza com coisas pequenas e um sem graça solitário. Você vai ter tempo para experimentar isso e eu espero que sua escolha seja sempre o de deixar a vida leve.

Pedro, aproveite todo o amor que recebe. Brinque com o Luke como eu brinquei com o Mel. Curta a sua tia T. como eu curti a minha Jojô.

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Tia T.

Obrigada por todo carinho e empenho que tem com o Pedro. Eu sou realmente grata por todas as evoluções dele e por você acreditar e trabalhar os potenciais dele respeitando o tempo e as restrições motoras. Parabéns pelo profissionalismo e respeito, eu sei que não somos apenas cifrões!

Beijos,

Bia e Pedro.

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A importância de registrar os momentos

Me lembro de mim ainda bem pequena olhando as fotos da família. Era um ritual que eu gostava de repetir constantemente e sempre que possível pedia para alguém pegar a sacola cheia de álbuns que ficava guardada na parte alta de um guarda-roupa do meu quarto. OU seja, a salvo de crianças curiosas.

Não sei bem porque gostava de ver fotos minhas de quando era um bebê se nem fazia tanto tempo assim que eu havia deixado de ser um. Kkkkkkkkk Mas, o fato intrigante é que eu achava interessante saber como tinham acontecido tais e tais momentos. Tem um álbum do batizado da minha irmã, por exemplo. Quem me conhece sabe que ela é seis anos mais velha que eu e, sendo a minha mãe uma católica praticante, eu não fui ao batizado dela que aconteceu pouco tempo após o nascimento! Mas, o registro está lá e eu pude ver minha avó novinha de tudo em um elegante vestido, vi o churrascão que rolou no quintal depois da cerimônia e constatei que ele estava lo-ta-do de amigos dos meus pais.

Me dava (ainda dá) uma ótima sensação rever os registros das viagens para a praia em que eu era uma menininha de maio da Hello Kitty torrada de sol, lambuzada de sorvete e no maior estilo “farofeira”. Tem foto minha e da minha irmã brincando de casinha, de escolinha com as bonecas, de apresentações de dança, do nosso único cachorro, dos natais em família, das formaturas (desde o ensino infantil)… Quantas boas lembranças da minha infância estão eternizadas em fotografias.

Já adolescente eu me divertia em ver meu pai com calça boca de sino, camisa aberta, sandália de tiras de couro e os cabelos cumpridos!! Minha mãe com cinturinha de pilão e brincos coloridos de plástico era um pitelzinho, gente. Tá na cara porque ela conquistou o japa charmoso de Ray-ban! Kkkkkkk

Mas, tentando manter o foco desse post depois de me perder um pouco em todas essas linhas….

Acho que a fotografia eterniza os momentos para que a gente possa ver com outros olhos depois. O tempo, esse senhor de destinos, trata de aplicar uma espécie de filtro que embaça as imagens e assim deixa menos visível aquilo que não era tão bom. Não é?

É tão comum olharmos para as fotos e sentirmos aquele calorzinho no coração, né? Seria vontade de reviver? É como se no inspirar do ar entrasse pelas nossas narinas a atmosfera daquele momento. O cérebro, em suas infinitas sinapses neuronais, avisa que tem algo diferente acontecendo. Sobe um nó na garganta, um piscar de olhos mais rápido acontece, um sorriso nos lábios se forma…e lá vem: a gente se emociona!

Foi o que aconteceu ontem a noite quando sem querer achamos uns vídeos do Pedro com poucos meses de idade. Gente, e não é verdade que eu tive um recém-nascido? (tóim) Poxa vida fiquei tão emocionada de ver o Pedro tão bebezinho. Eu já não me lembrava mais, juro! Não lembrava do quanto ele era pequenininho, das expressões específicas da idade, das roupinhas que ele já perdeu há tempos, da casa quase móveis…

Novamente tive a mesma sensação a qual relatei lá no início do texto de quando pegava as fotos de um passado até recente e me interessava por rever os detalhes. Me emocionei mesmo. Me dei conta do quanto é importante registrar os momentos porque com o tempo, e nem precisa ser tanto assim, a gente se esquece das coisas, dos detalhes, da graça de cada instante, fase, estágio.

Preciso registrar a infância do Pedro, e a nossa família, para que no futuro ele possa ver como foram esses dias…e rir das nossas roupas, cabelos, carro, claro!

dentes

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Repensando atitudes

Eu sempre achei que seria uma mãe daquelas linha dura. Aquela que não dá moleza para birras, que ensina a juntar as bagunças e que deixa comer sobremesa só depois de limpar o prato.

Ok. O Pedro ainda é pequeno e ainda não preciso adestrá-lo ensiná-lo certas coisas (não dá pra pular a fase das birras?), mas um episódio semana passada me fez ficar pensando em que tipo de mãe eu sou/serei para o Pedro.

No ônibus um menino chorava muito sentido para mãe dizendo que não tinha ganhado nenhum presente no aniversário. A mãe respondeu dizendo que isso era o resultado por ele não ter obedecido nem a ela, nem ao pai, nem a professora. Na hora fiquei com dó porque aniversário é uma data esperada o ano todo quando somos crianças. É o acontecimento do ano, aliás. É o nosso dia especial.

Então pensei qual seria a minha atitude perante o Pedro. Eu agiria da mesma maneira? Eu abria exceção por conta do aniversário e repreenderia de outra maneira? Não sei. Mas, a situação me fez refletir sobre o impacto das minhas escolhas e atitudes para a formação dele.

E a reflexão vai muito além de escolher dar ou não presente. O ato de dar um presente contém, na minha visão, uma trama de significados bem complexa. O que representa dar e receber presente? Bem, tem muitos significados ao meu ver. Positivos: demonstração de carinho, lembrança, afeto, recompensa (por conquistas) em certos casos. Negativos: compensação emocional, falta de consciência de valor ($).

O que eu estou passando para o meu filho quando perco a paciência e grito? O que estou ensinando ao meu filho quando respondo grosseiramente para alguém? O que estou transmitindo ao meu filho quando acordo mal humorada e não dou bom dia com um sorriso no rosto? O que estou passando como certo quando ele chora “pedindo ajuda/atenção” e eu deixo para depois porque estou ocupada com outra tarefa?

Sim, porque nessa fase eles são como esponjas. Aprendemos a partir daquilo que vemos os outros a nossa volta fazendo. Imitamos. Repetimos as atitudes, as falas. O que esperar de uma criança que convive com um pai (avô, padrasto, tio, irmão) cavalheiro, que divide tarefas em casa, que trata com respeito as pessoas? O que esperar da menina que convive com um exemplo de homem que só ofende a mãe, que a xinga, a destrata e a vê como mero objeto da casa?

Ok. Tudo que generaliza é ruim. Mas pensem: qual ambiente é, pelo menos na maioria das vezes, melhor para criar um serzinho que está formando personalidade, caráter, visão de mundo? É na primeira infância que a criança forma o comportamento afetivo/emotivo que levará para a vida adulta (leia mais sobre o assunto aqui ). Passamos a agir da forma como fomos ensinados ou, melhor dizendo, da maneira como vivenciamos as situações na infância.

Se você foi uma criança que teve pais presentes, carinhosos e que lhe estimularam a defender sua opinião, é bem provável que quando adulto continue a agir da mesma maneira com o próximo. Pois, isso está no seu inconsciente. No “DNA” do seu comportamento afetivo/emotivo. É o que você aprendeu. Mas, o contrário também pode acontecer. Se você foi criado para ser independente, se não estimulado a falar dos sentimentos, se foi tolhido quando expressava suas descobertas infantis…a introspecção fará parte da sua rotina. Bem, não preciso me estender sobre a parte de convívios com indivíduos violentos…

Para a nossa alegria: tudo tem exceção! Conheço pessoas com uma infância terrível que poderiam ter se tornado seres desprezíveis…só que não se tornaram. Também conheço gente que tinha tudo considerado como essencial e virou um delinquente. Mas, to falando da maioria. Da média. E do comum: crianças que são influenciadas pelo ambiente em que vivem.

Difícil pensar sobre comportamento, não? Ainda mais quando precisamos analisar a nós mesmos para identificar o que queremos repetir e o que não queremos passar para frente. É preciso rever conceitos, e talvez revisitar um passado dolorido. Mexer em algumas feridas.

Melhor assim do que deixar o barco correr sem rumo. Já pensou perceber que o final do curso do rio termina numa queda d’água mortal?! Prefiro remar antes!