A primeira vez que te vi. A primeira vez que te toquei.

Só quando eu subi do centro cirúrgico pude te ver pela primeira vez, filho. Foi por foto. Foi a sua madrinha, irmã da mamãe, que me mostrou você. Não sei como ela fez, mas conseguiu entrar na UTI para poder tirar uma foto e te mostrar para a mamãe.

Confesso que olhei, mas não consegui me expressar. Fiquei muda. Olhei você e senti medo de perder você. Lembro de dizer pra sua tia “Se ele morrer nunca mais vou ser feliz”. Lembro também de entrar no banheiro e chorar abafado pra ninguém ouvir, mas por dentro eu gritava “Deus! Por que? Eu não fiz mal pra ninguém. Por que você está me fazendo passar por isso?”.

Eu gritei com Deus, filho…

Depois de dormir algumas horas e esperar o efeito da anestesia passar fui ver você. Papai me colocou na cadeira de rodas e subimos até a UTI.  Pela primeira vez entrei naquele lugar onde entraria centenas de vezes por mais de 90 dias. Era quente, tava escuro (diminuem as luzes a noite) e tinha um cheiro específico.

Dezenas de incubadoras. Centenas de aparelhos barulhentos e muitos bebezinhos como você. Com a ajuda do papai me levantei e andei até a sua incubadora. Curvada com dor nos pontos e puxando o soro me apoiei na sua “casa” e olhei.

Fiquei sem respirar quando vi você, Pedro. Tão pequeno. Fiquei chocada. Seus braços e pernas eram tão finos. Tantos fios e aparelhos ligados em você. Nas telas vários números.

Chorei. Chorei incontrolavelmente apoiada na sua incubadora. Seu pai achou que eu não fosse agüentar e tentou me levar de volta para a cadeira de rodas. Não quis. Eu só queria ficar ali e terminar de chorar. Sua fralda era uma tamanho RN cortada no meio e com fita crepe para fazer o acabamento e não deixar o algodão vazar.

Lembro de uma técnica de enfermagem (que te acompanhou até o fim) me dizer para por a mão em você. “Não!!!”…eu não consegui. Demorou filho para eu conseguir tocar em você. Tinha medo de te machucar ou de te passar alguma bactéria.

Mas, o dia chegou. Eu descansei minha mão sobre as suas costas. Senti você quentinho, pele muito fina, macio. Então, tive a noção de como você era pequeno porque a minha mão (que não é nada grande) quase cobria todo o seu tórax e abdômen.

Eu senti você. Senti o maior amor da vida, filho.

Depois fiz uma das coisas que eu mais amo até hoje: peguei na sua mãozinha! Que linda. Era tão pequena e perfeita. Fiquei olhando cada dedinho, as micro unhas, tudo. Seu pai registrou o momento. Olha só!

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